O que é a hipertensão arterial?
Conhecida também como pressão alta, é considerada uma doença crônica, definida pelo aumento persistente da pressão arterial acima de 140 x 90 mmHg (ou popularmente, 14 por 9).
Medida correta da pressão arterial
A medida da pressão arterial deve ser realizada com técnica correta, em pelo menos duas ocasiões diferentes, na ausência de medicação anti-hipertensiva.
Neste link você encontra como deve ser realizada a técnica de aferição da pressão arterial:
Dados epidemiológicos globais
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte, hospitalizações e atendimentos ambulatoriais em todo o mundo, inclusive em países em desenvolvimento como o Brasil.
A hipertensão arterial está associada em 45% das mortes cardíacas (doença arterial coronariana e insuficiência cardíaca) e em 51% das mortes por doença cerebrovascular (AVC).
Vale ressaltar que a hipertensão arterial mata mais por suas lesões nos órgãos-alvo, que são: Infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e doença renal crônica.
Um estudo de tendência mundial entre 1975-2015, que avaliou 19,1 milhões de adultos, mostrou que em 2015 o número estimado de adultos com hipertensão arterial era de 1,13 bilhões, sendo 597 milhões de homens e 529 milhões de mulheres, indicando um aumento de 90% no número de pessoas com hipertensão arterial, principalmente nos países de baixa e média rendas.
Prevalência de hipertensão arterial no Brasil
Em 2013, o percentual de adultos hipertensos chegou a 32,3%. Detectou-se que a prevalência de hipertensão arterial foi maior entre homens, além de aumentar com a idade, chegando a 71,7% para os indivíduos acima de 70 anos.
No período de uma década (2008 a 2017), foram estimadas 667.184 mortes atribuíveis à hipertensão arterial no Brasil. Ao longo da última década, 77% dos custos com hospitalizações no SUS com doença arterial coronariana são representados por doenças cardiovasculares associadas à hipertensão arterial e aumentaram 32%, em reais, de 2010 a 2019, passando de R$ 1,6 bilhão para R$ 2,2 bilhões no período.
Se você deseja uma avaliação para saber como está sua pressão arterial, clique abaixo:
Impacto da hipertensão arterial nas doenças cardiovasculares
Por se tratar de doença frequentemente assintomática, a hipertensão arterial costuma evoluir com alterações estruturais e/ou funcionais em vários órgãos, como coração, cérebro, rins e vasos, podendo causar várias complicações:
- Doença arterial coronária (DAC), levando ao infarto agudo do miocárdio.
- Insuficiência cardíaca (IC), popularmente conhecida como “coração grande e fraco”.
- Fibrilação atrial (FA), a taquiarritmia mais comum no mundo.
- Morte súbita
- Acidente vascular encefálico (AVE) isquêmico (AVEI) ou hemorrágico (AVEH)
- Demência
- Doença renal crônica, que pode evoluir para necessidade de hemodiálise.
Quais são as causas da hipertensão?
A doença é multifatorial, ou seja, causada por vários fatores: genéticos, ambientais e sociais somados.
Quais os principais fatores de risco para hipertensão arterial?
- Genética
- Idade
- Sexo
- Sobrepeso / Obesidade
- Consumo de sódio
- Sedentarismo
- Álcool
- Fatores socioeconômicos
- Apneia obstrutiva do sono
- Outros
Quer controlar melhores seus fatores de risco?
Vamos comentar resumidamente sobre eles:
1- Genética
Fatores genéticos podem influenciar os níveis da pressão arterial.
2- Idade
Em torno de 65% dos indivíduos acima dos 60 anos apresentam hipertensão arterial.
Com o envelhecimento, ocorre um enrijecimento progressivo e perda de elasticidade das grandes artérias, fazendo com que a pressão arterial aumente.
3- Sexo
Em faixas etárias mais jovens, a pressão arterial é mais elevada entre homens, mas a elevação pressórica por década se apresenta maior nas mulheres. Assim, na sexta década de vida, a pressão arterial entre as mulheres costuma ser mais elevada e a prevalência de hipertensão arterial, maior.
4- Sobrepeso e obesidade
Parece haver uma relação direta, contínua e quase linear entre o excesso de peso (sobrepeso/obesidade) e os níveis de pressão arterial.
5- Ingestão de sódio
A ingestão elevada de sódio tem-se mostrado um fator de risco para a elevação da pressão e, consequentemente, da maior prevalência de hipertensão arterial.
A literatura científica mostra que quando a ingestão média de sódio é superior a 2 g/dia (o equivalente a 5 g de sal de cozinha por dia), isso está associado a doenças cardiovasculares e acidente vascular cerebral.
6- Sedentarismo
Há uma associação direta entre sedentarismo, elevação da pressão e hipertensão arterial.
Algo que chama a atenção é que, em 2018, globalmente, a falta de atividade física (menos de 150 minutos de atividade física por semana ou 75 minutos de atividade vigorosa por semana) era de 27,5%, com maior prevalência entre as mulheres (31,7%) do que nos homens (23,4%).
7- Álcool
O impacto da ingestão de álcool foi avaliado em diversos estudos epidemiológicos. Foi observado que há maior prevalência de hipertensão arterial ou elevação dos níveis pressóricos naqueles que ingeriam seis ou mais doses ao dia, o equivalente a 30 g de álcool/dia = 1 garrafa de cerveja (5% de álcool, 600 mL); = 2 taças de vinho (12% de álcool, 250 mL); = 1 dose (42% de álcool, 60 mL) de destilados (uísque, vodca, aguardente).
8- Fatores socioeconômicos
Entre os fatores socioeconômicos, podemos destacar: menor escolaridade e condições de habitação inadequadas, além da baixa renda familiar, como fatores de risco significativos para hipertensão arterial.
9- Apneia obstrutiva do sono
A apneia do sono é uma condição clínica na qual obstruções repetitivas da garganta ocorrem durante o sono, gerando apneias (pausas respiratórias de no mínimo 10 segundos) ou hipopneias recorrentes (quase apneias), dezenas de vezes ao longo da noite. Para cada apneia existe um despertar, o sono profundo e reparador não ocorre, o sono é de má qualidade e a sonolência diurna é grande, promovendo graves implicações para a saúde.
Existe clara evidência que sustenta a relação entre a apneia do sono, a hipertensão arterial e o aumento do risco para hipertensão arterial resistente.
Como pode ser feito o diagnóstico?
O diagnóstico de hipertensão arterial é baseado em medições repetidas da pressão arterial no consultório em mais de uma consulta, utilizando técnica correta e aparelhos adequados.
Pode-se também utilizar métodos de aferição da pressão fora do consultório para realizar o diagnóstico, como, por exemplo, o MAPA (Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial), que é um exame que permite o registro indireto e intermitente da pressão arterial durante 24 horas, enquanto o paciente realiza suas atividades habituais e também durante o sono.
Como classificar a hipertensão arterial de acordo com níveis pressóricos?
PA SISTÓLICA | PA DIASTÓLICA | |
ÓTIMA | < 120 | < 80 |
NORMAL | 120 – 129 | 80 – 84 |
PRÉ HIPERTENSO | 130 – 139 | 85 – 89 |
HIPERTENSÃO ESTÁGIO 1 | 140 – 159 | 90 – 99 |
HIPERTENSÃO ESTÁGIO 2 | 160 – 179 | 100 – 109 |
HIPERTENSÃO ESTÁGIO 3 | ≥ 180 | ≥ 110 |
Como é realizada a avaliação clínica e complementar?
A avaliação inicial de um paciente com hipertensão arterial inclui a confirmação do diagnóstico, a suspeita e a identificação de causa secundária, além da avaliação do risco cardiovascular individual.
Doenças associadas também são investigadas.
A avaliação completa inclui:
- A medida da pressão arterial no consultório e/ou fora dele, utilizando-se técnica adequada e equipamentos validados e calibrados;
- A obtenção de história médica (pessoal e familiar);
- A realização de exame físico;
- A investigação laboratorial.
São propostas avaliações gerais a todos os hipertensos e avaliações complementares apenas para grupos específicos.
Como é feito o tratamento da hipertensão?
De duas maneiras:
–Tratamento não medicamentoso: realizando mudanças de hábitos e estilo de vida.
–Tratamento medicamentoso: utilizando fármacos específicos para cada paciente, após análise individual do seu risco cardiovascular e suas doenças associadas.
Tratamento Não Medicamentoso:
1-Cessar o tabagismo
O tabagismo é um dos principais fatores de risco cardiovascular. O consumo não apenas de cigarro, mas também de charuto, cigarrilha, cachimbo, narguilé e cigarro eletrônico, permanece particularmente elevado em alguns países e aumenta muito o risco cardiovascular.
Por isso, recomenda-se fortemente a cessação do tabagismo e existem medicamentos (como bupropiona de liberação sustentada, vareniclina, goma de nicotina, pastilha, spray nasal e adesivos) eficazes para ajudar os fumantes a parar com o tabagismo.
2-Mudança do padrão alimentar
Os padrões alimentares considerados saudáveis têm sido associados à redução da pressão arterial.
Recomenda-se maior consumo de frutas, hortaliças, laticínios com baixo teor de gordura e cereais integrais, além de consumo moderado de oleaginosas e redução no consumo de gorduras, doces e bebidas com açúcar e carnes vermelhas.
3-Redução do sódio da dieta
A ingestão de sódio se associa diretamente à elevação da pressão e por isso é recomendado que sua ingestão seja limitada a aproximadamente 2 g/dia (equivalente a cerca de 5 g de sal por dia) na população em geral.
A redução eficaz do sal não é fácil e, muitas vezes, há pouca valorização de quais alimentos contêm altos níveis de sal.
Deve-se ter muito cuidado com a quantidade de sal adicionado e com os alimentos com alto teor de sal (produtos industrializados e processados).
São exemplos de alimentos ricos em sódio que devem ser evitados em hipertensos: carnes processadas (presunto, mortadela, salsicha, linguiça, salame), bacon, carne-seca, nuggets; enlatados (extrato de tomate, conserva de milho, de ervilhas), queijos (amarelos: parmesão, provolone, prato), temperos prontos (Arisco®, Sazon®, molho de soja [shoyu], molho inglês, ketchup, mostarda, maionese, extrato concentrado, temperos prontos, amaciantes de carne e sopas desidratadas) e lanches industrializados (chips, batata frita e salgadinhos).
4-Consumo adequado de alimentos ricos em potássio
Há uma relação entre redução da pressão arterial com aumento da ingestão de alimentos ricos em potássio. Sua ingestão pode ser aumentada pela escolha de alimentos pobres em sódio e ricos em potássio, como: feijões, ervilha, vegetais de cor verde-escura, banana, melão, cenoura, beterraba, frutas secas, tomate, batata-inglesa, laranja, abacate, leite desnatado, iogurte desnatado, peixes (linguado e atum), ameixa, uva-passa.
5-Redução do peso corporal
A gordura corporal excessiva, especialmente a visceral é um fator de risco importante para a elevação da pressão arterial, que pode ser responsável por 65 a 75% dos casos de hipertensão.
A diminuição do peso promove a diminuição da pressão arterial tanto em indivíduos normotensos quanto em hipertensos, mesmo sem alcançar o peso corporal desejável.
6-Redução no consumo de bebidas alcoólicas
Estima-se que o consumo excessivo de álcool seja responsável por cerca de 10-30% dos casos de hipertensão e por aproximadamente 6% da mortalidade de todas as causas no mundo.
Para os consumidores de álcool, a ingestão de bebida alcoólica deve ser limitada a 30 g de álcool/dia = 1 garrafa de cerveja (5% de álcool, 600 mL); = 2 taças de vinho (12% de álcool, 250 mL); = 1 dose (42% de álcool, 60 mL) de destilados (uísque, vodca, aguardente).
7-Atividade física
Todos os adultos devem praticar pelo menos 150 minutos/semana de atividades físicas moderadas ou 75 minutos/semana de vigorosas.
Os exercícios aeróbicos (caminhada, corrida, ciclismo ou natação) podem ser praticados por 30 minutos em 5 a 7 dias por semana. A realização de exercícios resistidos (musculação) em 2 a 3 dias por semana também é recomendada.
Para um benefício adicional, em adultos saudáveis, recomenda-se um aumento gradual da atividade física para 300 minutos por semana de intensidade moderada ou 150 minutos por semana de atividade física vigorosa, ou uma combinação equivalente de ambos, idealmente com exercício diário supervisionado.
Tratamento Medicamentoso:
Existem várias classes de medicamentos para tratar hipertensão arterial. A escolha do fármaco adequado ou a combinação de fármacos necessários para o controle da hipertensão dependerá da avaliação de cada paciente pelo seu médico.
O médico julgará necessário o uso de um, dois ou mais medicamentos, de acordo com as características e os exames complementares realizados pelo seu paciente, avaliando em conjunto o risco cardiovascular de cada um no momento da consulta.
São exemplos de fármacos utilizados no controle da pressão arterial:
Diuréticos tiazídicos: Hidroclorotiazida, Clortalidona, Indapamida.
Inibidores da ECA: Captopril, Enalapril, Ramipril, Lisinopril, Perindopril.
Bloqueadores dos receptores de angiotensina: Losartana, Valsartana, Olmesartana, Candesartana, Telmisartana.
Bloqueadores dos canais de cálcio: Nifedipino, Anlodipino.
Outros: Espironolactona, Carvedilol, Hidralazina, etc.
Fonte: Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial – 2020.